Capítulo 01 (Miles):
-- Miles? – Acordei assustado,
procurando por ela no corredor à minha frente.
Nada. Ninguém. Foi apenas um
sonho.
Estava sentado lá, na frente do
apartamento novo dela há pelo menos seis horas, um pouco mais talvez, e ainda
nenhum sinal dela. Já estava começando a me preocupar, ela já deveria ter
voltado do trabalho.
A ansiedade e o nervosismo
começavam a me invadir, não aguentava mais de saudade dela, de sua boca, sua voz,
seu carinho. O medo estava inundando meu coração, me dizendo que ela não
deveria me perdoar, que ela não me daria uma nova chance depois de tudo que
fiz, ou deixei de fazer, de como a tratei na última vez em que nos vimos.
Meu coração batia acelerado, temendo
que estivesse me evitando. Corbin poderia tê-la alertado da minha presença lá,
e ela não quis me encontrar. Mas era a casa dela, ela tinha que vir...
O toque do meu celular me
assustou por um instante, apesar de ter chegado calmo, essa espera, essa demora
dela já me deixou tenso. Precisava tanto vê-la, me explicar para ela. Tanta
coisa para dizer...
-- Alô! Corbin?
-- Miles, venha até o hospital
agora mesmo! Sabe onde Tate trabalha, não é?
-- Sei sim, mas...
-- Venha logo, eu explico quando
chegar. Rápido!
Antes que eu pudesse perguntar o
que houve, ele já tinha encerrado a ligação. Alguma coisa me dizia que algo
acontecera com Tate, e eu tentei me convencer do contrário, que estava apenas
ficando paranoico. Porém, nada tirava do meu peito aquele peso novo, aquele
medo familiar acompanhado de novas ondas de arrependimento.
Não conseguia imaginar o que
seria de mim se eu a perdesse naquele momento. Tenho certeza de que jamais
conseguiria viver novamente, não sem a Tate comigo.
Cheguei correndo no hospital,
procurando feito louco no meio da confusão de pessoas seguindo para todos os
lados, correndo apavoradas, por Corbin e Tate. Pensei que o alivio enfim me
atingiria quando encontrei Corbin, mas Tate não estava com ele. E o alivio não
veio.
-- Onde ela está? O que está
havendo?
-- Algum maluco entrou armado
com uma bomba no hospital, pegou alguns funcionários como reféns...
-- Tate?
-- É. Ele a encontrou pouco
antes dela sair... Não sei direito o que aconteceu, só sei que uma bomba
explodiu parte do prédio, matou o criminoso, mas... A policia ainda não sabe
onde ou como estão os reféns. Estão vasculhando os escombros agora. - explicou
Corbin, angustiado. Estava tão tenso, sua mão não parava de tremer. -- Ela está
lá em algum lugar, Miles. Tate está lá, precisando de ajuda e... Só queria
poder ir lá e ajudar a encontrá-la.
Eu sabia exatamente como Corbin
se sentia, meu impulso era invadir correndo, gritando por ela. Estava a ponto
de realmente fazer isso, não me importava com as consequências desde que a
achasse, quando um socorrista surgiu, trazendo-a numa maca. Corbin
imediatamente correu até ele, comigo correndo logo atrás, e desesperados
começamos a insistir em acompanhá-la.
Nem eu ou Corbin queríamos que
ela ficasse sozinha.
Eles permitiram que Corbin os
acompanhasse até a parte do hospital que não havia sido afetada pela explosão,
mas não deixaram que eu fosse junto, afinal, eu não era irmão, nem nada dela
naquele momento. Nunca odiei tanto minha própria estupidez como quando os vi a
levando para longe de mim, permanecendo paralisado onde estava.
Eu não podia ficar ali, tinha
que ficar ao lado dela. Não podia abandoná-la de jeito nenhum, ou jamais seria
capaz de perdoar a mim mesmo e pedir a ela uma nova chance. Aquele era o
momento de mostrar para ela o quanto era importante para mim, que ela poderia
contar comigo de corpo e alma.
Ela precisava de mim e eu não a
decepcionaria.
Assim que cheguei ao corredor
onde Corbin aguardava, meu coração quase saltou do peito. Ele estava andando de
um lado para o outro, inquieto e tenso, angustiado.
-- Como ela está, Corbin? -
quase gritei, de tanto desespero que sentia.
-- Nada bem. Disseram que ela
estava presa entre destroços, não foi atingida diretamente pela explosão, mas
ainda assim sofreu muitos ferimentos por causa do desabamento. Ela foi atingida
na cabeça, Miles... Sei que isso é grave. Muito grave. Ela está em cirurgia
agora e não sei o que fazer. Não quero sair daqui e correr o risco de perder o
momento em que terminarem para ter noticias... mas preciso avisar nossos pais.
- disse Corbin, tentando se manter firme. Admito que invejei a força dele,
naquele instante eu sentia que qualquer movimento meu poderia me fazer
desmoronar de vez.
E eu não podia. Tinha que
permanecer forte por ela.
-- Eu fico aqui. Não vou a lugar
algum até saber como ela está, de qualquer forma. Se perguntarem, direi que sou
o noivo dela, não se recusarão a me informar sobre o estado dela ou de vê-la.
Vá ligar para seus pais, Corbin. Melhor, vá buscá-los de uma vez. Seu pai não
estará em condições de dirigir quando souber... Só tenha cuidado.
-- Tudo... Tudo bem, me avise
assim que ela sair da cirurgia.
-- Pode deixar.
Depois que Corbin saiu, fiquei
ainda mais angustiado, mais inquieto, mais tenso. Nunca desejei tanto que ela
estivesse ao meu lado como naquele momento, ela estaria me abraçando, me
confortando como fez no dia em que nos conhecemos. Ao invés disso, ela estava
em uma sala fria, sem ninguém que amava ao seu lado, lutando por sua vida.
Oscilando entre a vida e a morte.
Que lado ela escolheria? Tudo o
que eu podia fazer era rezar para que ela, apesar de tudo o que a fiz sofrer,
escolhesse viver e voltasse para mim.
Demorou o que pareceu uma
eternidade até eu finalmente ter alguma noticia de Tate. O médico se aproximou
e perguntou pelos parentes de Tate Collins, ele conhecia ela e vira seu irmão
quando ele a acompanhou até aquela ala, estranhou não vê-lo esperando.
-- Eu sou o noivo da Tate,
Corbin foi buscar os pais dos dois... Como ela está? Vai ficar bem, não é?
-- Conseguimos realizar a
cirurgia com sucesso mas ela ainda está em estado crítico. precisa ficar em
observação por algum tempo, além disso...
-- O que? O que foi?
-- Infelizmente, a senhorita
Collins, devido a um ferimento na cabeça, se encontra em coma. Teremos de
esperar até ela recuperar a consciência para ver a extensão do dano causado
pelo ferimento.
-- Coma? Dano no cérebro? - eu
mal conseguia falar, as palavras dele ecoavam na minha cabeça, e as lágrimas
começaram a embaraçar minha visão. Meu mundo desmoronava, mais uma vez.
-- Sinto muito! - disse o
médico. Antes de se afastar, ele me mostrou o quarto em que ela ficaria.
Ela parecia estar dormindo,
deitada naquela cama de hospital, num quarto que dividia com outras três
pessoas, feridas durante o ataque ao prédio. Sequer percebi quando Corbin chegou
com os pais, todos muito angustiados. Entendia bem como se sentiam, seu pior
pesadelo se tornando realidade, sua filhinha podia estar morta agora. E o risco
ainda não havia passado, os médicos nem sabiam dizer quando ela acordaria. Se
ela acordaria.
Era o último dia da minha folga,
Tate já estava inconsciente há dois dias, sem dar nenhum sinal de que fosse
acordar. Seus pais mantiveram a calma, a esperança de que ela acordaria logo, e eu
tentava seguir seu exemplo, em nenhuma circunstancia eu iria desistir dela. Ela
não desistiu de mim mesmo quando eu a magoava seguidas vezes, provaria que a
merecia, permaneceria ao seu lado, ainda que levasse anos para ela acordar.
Ela era minha vida desde o
momento em que a conheci, não conseguia me imaginar sem ela. Pelo menos, não
vivendo de verdade.
Com Corbin já era diferente.
Ele estava bastante abalado,
pensar em sua irmãzinha naquele leito de hospital, incapaz de acordar, era
demais para ele, que sempre fez de tudo para protegê-la. Então tudo o que ele
podia fazer era esperar, assim como nós. Infelizmente para ele, paciência não
fazia parte de sua personalidade, por isso estava inquieto e hostil,
principalmente comigo.
Ele não disse, mas eu sabia que
ele me culpava de alguma forma. E se era o que ele precisava para manter suas
forças, sua esperança, eu entendia. E aceitava. Desde que ele não tentasse me
afastar dela, porque isso eu jamais deixaria.
Naquele dia, ele parecia ainda
mais vulnerável do que antes, não sabia se era impressão minha. Ele não queria
falar, e eu meio que preferia assim, não era um bom ouvinte naquele momento,
mas sabia que algo havia acontecido na noite passada, quando ele foi descansar em casa.
Eu fiquei ao lado da cama dela,
segurando e acariciando sua mão, a observando respirar de forma sistemática,
conversava com ela como fazia todos os dias desde aquele pesadelo, quando ouvi
Corbin entrar, depois de levar seus pais para almoçarem.
-- Onde estão seus pais?
-- Os deixei no meu apartamento,
precisavam descansar um pouco. Hoje é seu último dia de folga, vai precisar
voltar a trabalhar amanhã...
-- Eu sei... E você?
-- Vou ter de voltar daqui a
dois dias. meus pais vão ficar com ela enquanto estivermos fora, por isso
insisti para que descansassem um pouco mais.
-- Entendo... Não sei se vou
conseguir deixá-la aqui, Corbin.
-- Ela não vai gostar se você
perder o emprego que amo por causa dela, Miles.
-- Sei disso. Só não consigo nem
pensar em ficar longe dela agora, se tiver que escolher entre ela e meu
emprego, escolho ela com toda a certeza, sem pensar duas vezes.
-- Você não precisa escolher,
sabe disso. Ela não espera nada assim de você. - não soube explicar, mas aquilo
magoou muito, ouvir Corbin dizer aquelas palavras, sabendo que ele estava certo
fez meu coração se apertar e doer demais.
Ela não esperava nada de mim. Eu
a convenci a não esperar nada de mim, nada além de sexo. E então, não podia
sequer explicar tudo a ela, lhe entregar meu passado, como deveria ter feito
antes, me entregar totalmente a ela, para então pedir que ela me concedesse seu
futuro, um futuro juntos.
Minha mente vagava pelas
lembranças dos momentos que se tornaram a melhor coisa no mundo para mim, meus
momentos com ela, meus momentos com Clayton, e como seria maravilhoso se os
dois tivessem se conhecido, quando as máquinas perto da cama dela começaram a
apitar.
Ela estava tendo uma parada
cardíaca. Ela estava morrendo.
-- Não! Não! Tate... Tate! - era
só o que conseguia dizer, enquanto os médicos e enfermeiros me empurravam para
longe e se concentraram em trazê-la de volta.
"Por favor, a tragam de
volta. A tragam de volta para mim, eu imploro. Não a deixem ir." - pensei,
rezando em silencio.
Segundos torturantes passaram,
se tornaram minutos, antes dela finalmente voltar, e eu respirei novamente, sem
nem ter percebido que havia prendido a respiração. Ela ainda estava viva. Viva.
Minha palavra favorita, logo depois do nome dela. Tate. Não, Elizabeth Tate
Collins viva, eram as minhas palavras favoritas, em todo o mundo.
Mais do que nunca, não sabia
como teria forças para deixá-la no dia seguinte. E se acontecesse de novo enquanto
eu estiver longe, e se ela não voltar?
Aceitaria as consequências depois,
porém, não deixaria o lado dela, não até que ela acordasse e eu soubesse
que ficaria bem, que estaria me esperando.
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