Por
semanas, Cafa permaneceu o máximo que pôde ao lado de Fabi, porém, a
aproximação cada vez maior entre ela e o doutor Caio, o estava deixando maluco
de ciúmes. Não sabia mais o que fazer para acabar com aquilo, para afastá-los
de uma vez.
Ela
já estava demonstrando uma grande melhora, e o tumor regredia cada vez mais,
quando Cafa a contou sobre o sonho de Kira e o dele. Não conseguiu encontrar
outra forma de demonstrar a ela o seu medo de perde-la.
--
Então, no sonho de vocês dois, por causa da sua insistência em negar o que
sente por mim eu acabo me casando com o doutor Caio e ficando grávida? Sendo
que no seu sonho, eu morro no parto e você fica arrasado...? – questionou Fabi,
sem ter certeza se acreditava.
--
Isso. Só que no começo do sonho da Kira, antes de tudo mudar, nós estávamos
juntos, como uma família. Tínhamos uma filhinha, e talvez outro bebê à caminho.
--
Nossa! Não seria maravilhoso...? – disse Fabi, com os olhos perdidos na própria
imaginação.
--
Kira disse que nossa filhinha era linda... Imagino que ela seria parecida com
você, talvez com um pouco de mim. Sabe Fabi, desde que ela me contou esse
sonho, e mais ainda depois de ter o meu, eu venho querendo cada vez mais que
aquela primeira visão de Kira, da nossa família, um dia se realize. A cada dia
que passa, esse desejo se torna cada vez mais forte, assim como o que eu sinto
por você. Já não consigo me imaginar sem estar com você. – disse Cafa,
apertando a mão de Fabi.
--
Talvez possamos torna-lo realidade um dia, por agora, acho melhor dramos um
passo de cada vez. – disse ela, sorrindo.
--
Como você quiser, meu amor.
Ao
sair do quarto, Cafa foi surpreendido pelo doutro Caio, que por alguma razão,
sempre tentava ser amigável com o rival. Cafa não conseguia entende-lo.
--
Ela sempre sorri assim, de forma magnífica, sincera, depois de conversar com
você. Cafa, não é? – disse o médico, observando sua jovem paciente os olhar
curiosa. – O tratamento é difícil, foi principalmente no começo, mas desde que
você começou a visita-la toda noite, foi que eu pude a ver sorrindo de
verdade... Sei que você percebeu meu carinho especial por ela, e que não gosta
muito disso. Apenas saiba que ela te ama, sempre fala de você, e se enche de
alegria quando vem vê-la, trazendo um mimo ou uma pequena surpresa para ela.
Mas é sua presença que é importante, que ilumina seus olhos, seu rosto e a
envolve com uma felicidade genuína. Só lhe peço, por favor, não destrua isso.
Não a magoe de novo, não apague o brilho, a esperança que há nos olhos dela.
Não atrapalharei, nem ficarei no caminho de vocês, nunca, desde que ela esteja
feliz.
--
A felicidade e a saúde dela são as coisas mais importantes para mim. Eu amo,
mais do que sequer imaginei ser capaz, trocaria minha saúde pela dela no
momento em que descobri sobre a doença, sem pensar duas vezes.
Cafa
se virou para ver Fabi mais uma vez antes de voltar para casa e descansar um
pouco. Fazia tanto tempo que ele não sabia mais o que era dormir uma noite
inteira e continuaria assim até poder ter Fabi dormindo ao seu lado, em sua
cama ou na dela, não importava qual.
Demorou,
mas finalmente Fabi recebeu alta do hospital e pôde voltar para casa recuperada.
Seus pais mal podiam disfarçar o alívio e a felicidade por tê-la saudável de
volta para casa. E Cafa não era capaz de conter em si a alegria de vê-la fora
daquele leito, daquele hospital.
--
Estou tão feliz por você ter podido vir, Cafa.
--
Não perderia por nada. Agora eu quero saber: Você passaria a noite ao meu lado?
Não faremos nada, nem se empolgue, apenas dormir.
--
Por que não? E se eu quiser mais do que dormir? – perguntou ela, maliciosa.
--
Terá de esperar até termos certeza que está forte o bastante, porque quando
acontecer, será intenso querida. – sussurrou ele, com um sorriso que declarava
claramente suas intensões.
--
Mal posso esperar.
--
Acredite, ninguém está mais ansioso do que eu, amor. Quero você todinha, com
cada fibra do meu ser. Vou te deixar tão louca que não desejará nenhum outro
toque além do meu, nenhum outro beijo além do meu e...
--
Cafa, eu já não desejo ninguém além de você. Agora pare de me provocar, está me
deixando excitada e não pretende resolver esse problema hoje.
--
Querida, podemos não transar hoje, mas posso muito bem resolver esse problema
de outro jeito... Espere só!
Na
semana seguinte, Cafa já estava mais tranquilo quanto à recuperação de Fabi, a
cada dia passado desde o retorno para casa ela se mostrou ainda mais disposta e
mais forte, deixando Cafa mais confortável para dar o próximo passo.
O
que ele não esperava era a volta de sua antiga amante, Caitlin, querendo
reviver a paixão entre eles. Assim que a viu, o esperando na porta do
restaurante de sua mãe, Cafa teve um pressentimento ruim. De alguma forma, ela
traria problemas para ele.
Apesar
de ter tido, inicialmente, uma abordagem cautelosa ao conversar com Caitlin, a
química entre os dois, além do passado mal resolvido, acabou tendo efeito em
Cafa, e o deixou mais relaxado com ela, mesmo temendo a impressão que aquele
retorno daria a Fabi. Não seria nada boa, à menos que tomasse uma atitude antes
que ela descobrisse.
--
Olha, Caitlin. Se tivéssemos nos encontrado meses atrás, eu com certeza me
divertiria muito com você... Mas agora, eu estou namorando com uma garota
incrível, e não quero estragar tudo de novo.
--
O que? Eu ouvi direito? Você, Cafa, o maior cafajeste do Rio de Janeiro, está
namorando sério?
--
É isso mesmo. E essa é a razão para o que vou lhe pedir agora. Não venha me
procurar se está querendo se divertir como costumávamos fazer... Não vai
acontecer. Tudo o que posso oferecer é amizade.
--
Não acredito que você se tornou esse chato... Mas se é assim que prefere,
tentarei o meu melhor para manter minhas mãos longe de você. – disse Caitlin,
sorrindo, sem nenhuma intenção de desistir do que vinha desejando há meses. Sua
semana louca com o antigo Cafa.
Porém,
ele não precisava saber naquele momento. Primeiro, Caitlin pretendia conhecer a
tal namorada, e depois daria um jeito de espantar a garota para bem longe de
seu Cafa. Porque Cafa seria seu, estava determinada a tê-lo de volta em suas
mãos. De qualquer maneira.
Por
várias semanas, Cafa se esforçou para evitar que Fabi e Caitlin se
encontrassem, contudo, por mais que quisesse, não foi capaz de impedir que seu
maior temor acontecesse. Fabi esperava por ele no restaurante da mãe dele,
quando a velha amiga e amante de Cafa chagou, surpreendendo completamente ele,
e deixando Fabi ainda mais desconfiada do que já havia começado a ficar nos
últimos dias.
--
Cafa! Que bom que consegui encontra-lo há tempo. Precisava muito falar com você
sobre a noite passada...
--
Noite passada? – questionou Fabi, com o coração acelerado.
--
Fabi, esta é uma velha amiga da faculdade, Caitlin. Ontem eu a ajudei com a
mudança. – explicou Cafa, bastante desconfortável com a situação. – O que houve
Caitlin?
--
É que tive um pequeno problema com a geladeira... Será que poderia me ajudar de
novo? Imagino que não seja uma boa hora, mas seria um grande favor...
--
Cafa, se não formos agora perderemos o início do show. – disse Fabi, estava
claro em seu rosto que não havia gostado nada de Caitlin, e que já imaginava
que tipo de amigos teriam sido no passado.
--
Vai ser bem rápido, prometo. – disse Caitlin.
--Tudo
bem. – respondeu Cafa.
--
Mas... Cafa? – Fabi protestou, sem sucesso.
Contrariada,
Fabi seguiu com Cafa e Caitlin até o apartamento dela, e ficou observando
enquanto ela flertava descaradamente com seu namorado. Ficou furiosa!
Fabi
deixou o apartamento sem sequer avisar Cafa, que ao notar a ausência da
namorada, foi imediatamente atrás dela.
--
Fabi! Fabi! Espera Fabi! O que houve?
--
O que houve? Não finja que não percebeu, Cafa, é experiente demais para tentar
essa jogada. O tempo todo em que estivemos lá ela ficou flertando com você, se
mostrando... Sei muito bem que ela não foi só uma amiga sua antes, está na cara
que vocês transavam. E agora quer ficar amiguinho dela, ajudando ela durante a
noite pelas minhas costas...?
--
Não aconteceu nada ontem à noite, e nem acontecerá no futuro. Eu já disse, eu
estou com você. Amo você! Não quero ninguém mais.
--
Depois de tudo o que aconteceu entre nós, e com essa aí surgindo do nada, como espera
que eu acredite que você não agirá como antes?
--
Eu sei que dei muitos motivos para você não confiar em mim antes, mas... Eu só
lhe peço esse voto de confiança agora, não vou te decepcionar. Eu juro!
--
Eu quero confiar, Cafa, mas é tão difícil... Só posso prometer tentar...
--
Para mim é o bastante. Vou reconquistar sua confiança Fabi, não vou magoá-la de
novo.
Cafa
a abraçou com força, e apesar da relutância dela, a levou para o show que tanto
queriam assistir. Ele mal pôde se conter de tanta felicidade ao vê-la tão
animada e feliz, a desconfiança e a mágoa, momentaneamente deixadas de lado.
Assim
que a deixou em casa, Cafa foi rápido para casa, apenas para ser surpreendido
novamente por Caitlin, lhe aguardando na porta de sua casa.
--
O que veio fazer aqui, Caitlin? Sua ceninha no apartamento não foi o bastante?
--
Sei que agi mal, mas não pude resistir. Por isso vim me desculpar.
--
É? Deveria se desculpar principalmente com a Fabi.
--
Eu sei... E farei isso. Amanhã. Onde poderei encontrá-la?
--
Ela deve ir ao restaurante da minha mãe à tarde, vou encontrá-la quando sair do
trabalho. Por favor, Caitlin, não faça nada que prejudique meu relacionamento.
Eu realmente me importo muito com a Fabi, não quero perde-la.
--
Eu entendo, Cafa. Consertarei tudo, e não interferirei mais.
--
Obrigado, Caitlin.
Naquela
noite, Cafa se sentia mais calmo, menos preocupado. Tinha certeza de que
Caitlin se retrataria, e ele não daria mais nenhuma razão para Fabi duvidar
dele, ou de seus sentimentos.
Ao
se deitar para dormir, Cafa deixou sua mente vagar, misturando suas lembranças
com Caitlin e seus sentimentos por fabi.
Ele se viu cercado por diversos quadros em
branco, numa sala escura mal iluminada. Cada quadro era iluminado por lanternas
no chão, mesmo estando vazias. Cafa circulou pela sala, sem entender o que
estava acontecendo, até que Fabi surgiu na sua frente, sorrindo inocentemente.
Estava encantadora!
Atrás dele, surgiu
Caitlin. Com uma expressão assustadora no rosto, encarando insistentemente a
nuca de Cafa. Ao sentir os pelos de sua nuca se arrepiarem, Cafa se virou e
tentou disfarçar o desconforto ao ver Caitlin ali parada, parecendo bastante
ameaçadora, perigosa, não para ele em si, mas para Fabi. O que o deixou ainda
mais temeroso.
-- Caitlin? O
quê...?
-- Veja Cafa!
Somos nós. – disse ela, de repente, indicando um dos quadros.
Subitamente, todos
os quadros que estavam em branco foram preenchidos por momentos sensuais entre
ele e Caitlin, deixando-o atordoado.
-- Não! Pare!
Fabi, isso não é o que pensa... É tudo passado, eu juro. – disse ele,
angustiado. – Por favor, não me deixe, Fabi. Fique! Fique comigo! – implorou ele,
à medida que a figura de Fabi desaparecia lentamente.
Quando Fabi sumiu
completamente, todos os quadros se tornaram brancos novamente, Caitlin se
aproximou pelas suas costas e o abraçou forte, muito forte.
-- Não o deixarei,
Cafa! Você é meu! Não permitirei que ela o tire de mim... Não me apague Cafa.
Não me apague de si, eu imploro! Somos perfeitos juntos.
Cafa a empurrou
bruscamente, a fazendo cair no chão, e se afastou rapidamente. Ele correu pela
sala, procurando por uma saída, porém, não havia portas ou janelas em parte
alguma.
-- Cafa! Cafa! –
gritos o alcançaram em seu desespero. – Você não vai fugir de mim. Não desta
vez!
Cafa acordou
assustado, transpirando muito, com o coração acelerado.
--
O que foi aquilo? – sussurrou ele para si mesmo.
Ele
voltou a se deitar, entretanto, não pôde mais dormir, sua mente estava tumultuada
e cheia de dúvidas.
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