quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fanfic... Sombras do Amanhã - Capítulo 02


Capítulo 02:

            Kira acordou ofegante do sonho, e sem se importar com as horas, correu até o quarto de Cafa, o acordando com alguma dificuldade.

            -- Preciso falar com você. Tive um sonho.

            -- Não pode esperar até mais tarde? É domingo e eu estou exausto...

            -- Não. Tive um sonho sobre você e a Fabi, é importante. – disse Kira.

            -- Fabi? Vai acontecer alguma coisa com ela? Ela está bem...? – perguntou Cafa, se levantando num pulo com o susto.

            -- Não, acho que ela está bem. No meu sonho, era você que... O que quero dizer é que se você não agir logo e aceitar os sentimentos que realmente tem por ela, consertar as coisas, você vai perder a Fabi, de vez.

            -- Kira, não estou entendendo.

            -- No meu sonho, primeiro eu vejo você e ela juntos, mais velhos, formavam uma família.... Tem até uma filhinha. Mas tudo desapareceu de repente, desmoronou, e então, você estava observando à distância ela com o marido, outro homem, e eles esperavam um bebê. Foi isso. Você estava arrasado.... Não pode deixar isso acontecer, pude ver o quanto estava sofrendo com aquilo, por tê-la perdido.

            -- Calma, Kira. Você está exagerando, foi apenas um sonho...

            -- Não! Pare de ser tão teimoso! – gritou ela. – Todos nós já percebemos o quanto você está abalado pelo término de vocês. Sei que sente falta dela e a quer de volta. Pare com esse egoísmo e esse orgulho tolo, acha que ela não sofre também?

            -- Foi ela quem quis terminar tudo! Foi escolha dela. – respondeu Cafa, furioso.

            -- E por que ela fez isso, hein Cafa? Em nenhum momento você se comprometeu com a relação de vocês. No minuto em que ela virou as costas você se engraçou com quem? Com aquela Jalma, que não vale o chão em que pisa. O que esperava que ela fizesse, continuasse fechando os olhos, enquanto o homem que ela amava a traía e magoava.

            -- Eu não traí a Fabi. Desde o começo eu fui honesto e em momento algum me comprometi com ela. Estávamos só saindo juntos, nada mais. Se ela pensou...

            -- Sei que você foi honesto, Cafa. Não esperava outra atitude sua, mas.... Não se pode controlar os próprios sentimentos, ela te ama e desejava mais do que só uma parte de você. O problema é que eu acho que você também se apaixonou, só não quer admitir.

            -- Eu posso ter afeto por Fabi, mas amor? Não Kira.

            -- Se continuar assim, você realmente vai perdê-la, Cafa. Não quero que, no futuro, lamente sua atitude por isso.

            -- Não se preocupe, irmãzinha. Eu estou bem, e tenho certeza de que Fabi também vai superar tudo isso.

            -- Espero que esteja certo...

            Kira deixou o irmão sozinho, refletindo sobre suas palavras, tentando entender como estava se sentindo com toda a confusão em sua vida amorosa. Não podia negar que ainda sentia falta de Fabi, e muito. Pensava nela o tempo todo, mesmo lutando pelo contrário, mesmo tentando evitar, seu corpo se sentia incompleto e um vazio doloroso inundava seu coração cada vez mais, a cada dia que passava longe dela.

            “Talvez Kira esteja certa... Eu já deveria ter superado, deveria estar voltando para minha antiga rotina, mas não consigo...” – pensou Cafa, voltando a se deitar, incapaz de dormir.

            Tentou ligar para Fabi, mais uma dentre a milhares de vezes que tentara naqueles dias, porém, como em todas as anteriores desde a separação, ela não atendeu.

            -- O que vou fazer? – ele se perguntou, colocando o celular de lado.



            Fabi estava nervosa quando chegou à clínica, vinha se sentindo mal há algum tempo e os sintomas só estavam piorando. Tinha medo do resultado dos exames, entretanto, não tinha outra escolha senão enfrentar a situação.

            Com a mãe ao seu lado, ela entrou no consultório, onde o doutor Caio as aguardava.

            -- As notícias não são boas, Fabi. Lamento, mas segundo seus exames, você está com câncer de mama.

            -- O quê? Mas ela é tão nova.... Tem que ser um engano! Os exames devem estar errados... – a mãe de Fabi disse, alterada. Não podia aceitar aquele diagnóstico. Enquanto Fabi permaneceu calada, em choque, absorvendo aquela nova realidade.

            Ela estava muito doente, de coração partido e talvez até mesmo morrendo. O que seria dela?

            -- Entendo que é difícil aceitar, porém, quanto antes fizer isso, mais rápido poderemos iniciar o combate à doença. A doença, felizmente, está no estágio inicial e tenho plena confiança na sua recuperação. Cuidaremos bem da sua filha aqui, eu garanto. Se concordarem, quero que ela inicie o tratamento o quanto antes, posso providenciar sua internação hoje mesmo, já deixei tudo preparado.

            -- Sim, claro doutor. Não se preocupe filha, eu trarei tudo o que precisar e avisarei seu pai. Vai ficar tudo bem, minha querida. – disse a mãe de Fabi, tentando com todas as forças acalmar o próprio coração, para dar o apoio que Fabi precisava.



            Já era quarta-feira, e Cafa ainda se atormentava com a dúvida. Deveria procurar Fabi? Ou deveria seguir em frente e esquecê-la? E ele conseguiria esquecê-la? De acordo com o sonho de Kira, a resposta era não.

            O fato era que seu orgulho o estava retendo, o impedindo de resolver a situação com Fabi. Nunca havia sentido medo de encarar uma mulher antes, e então, se viu amedrontado pela possibilidade de Fabi rejeitá-lo, se recusar a vê-lo. Não estava acostumado a não conseguir quem queria, de ser rejeitado, ainda mais pela mulher que talvez amasse. Será que a amava mesmo? Estaria Kira certa?

            Por um longo tempo, pensou ser imune a sentimentos como aquele. Jamais imaginou se apaixonar, até encontrar Fabi. De alguma forma, toda a doçura dela, seu sorriso, sua voz meiga, seu coração carinhoso e afetuoso, sua inteligência e sua força o conquistaram completamente. Cafa se surpreendeu naquele instante ao perceber que, não conseguia se imaginar no futuro sem Fabi com ele.

            Assim que saiu do trabalho, Cafa seguiu para a casa de Fabi, na esperança de poder vê-la, de poder conversar com ela. Porém, ao chegar à casa, todas as luzes estavam apagadas, mesmo ainda estando cedo para estarem todos dormindo. “Será que não tem ninguém em casa? ” – Se perguntou Cafa, ao caminhar até a porta e bater com força.

            Ninguém o atendeu.

            Pegou o celular e tentou ligar para ela, sem sucesso. Determinado, decidiu lhe mandar uma mensagem, ao menos.

            “Fabi, sei que deve me odiar nesse momento, não posso culpa-la por isso. Eu errei demais, não valorizei o amor que você me dava, a magoei e quebrei sua confiança, eu sei. Tudo o que posso dizer agora é que sinto muito. Por favor Fabi, me perdoe. ”

            Cafa voltou para casa, com o coração ainda mais pesado, frustrado por não poder ver fabi. Havia dias demais sem que a visse, sem sentir sua presença próximo dele.

            A cada dia que passava, ficava ainda mais difícil lutar contra o vazio em seu peito, contra a dor que a saudade e a culpa que o atormentava. Ele precisava dela, precisava dela de volta à sua vida, não era capaz de imaginar o sonho de Kira se tornando realidade, Fabi formando uma família com outro homem, longe dele definitivamente. Pensar nisso fazia seu peito doer ainda mais. Kira estava certa, ele amava Fabi e precisava lutar por ela. Por sua felicidade.

            Deitado na cama, Cafa enviou uma nova mensagem para ela.

            “Por favor Fabi, fale comigo!

            Eu vacilei, mas estou arrependido. Me perdoe! Me dê mais uma chance, querida. Só uma.

            Eu te amo! De verdade. Só preciso de uma chance para te mostrar, para compensar. ”

            Nos dias seguintes, toda noite após voltar do trabalho, Cafa dirigia até a casa de Fabi e lhe mandava uma mensagem por celular. Sem conseguir vê-la, sem ter nenhuma resposta. Não estava aguentando mais aquela saudade, aquele vazio.

            Foi após completar um mês desde a separação, numa noite quente, abafada, como a cidade estava acostumada a oferecer, que Cafa teve um sonho que jamais esqueceria, e o tornaria ainda mais determinado a reconquistar Fabi.

            Havia adormecido há poucos minutos, ou seriam horas? Quando se viu num corredor de hospital, amplamente iluminado por luz artificial, enfermeiras corriam de um lado ao outro, e médicos entravam e saiam pelas portas ao seu redor. E então, Cafa ouviu uma voz familiar, se sentiu ser puxado até uma sala de cirurgia, e levou um susto ao ver Fabi deitada, prestes a parir, segurando a mão de outro homem.

            -- Continue fazendo força, querida! Aguente só mais um pouco, está quase lá. – disse a médica, entre as pernas de Fabi.

            Cafa correu para perto dela, sem se importar com o homem ao lado dela. Ele a observou usar as suas energias para trazer aquele bebê ao mundo, e quando enfim se ouviu o choro estridente do recém-nascido, o pesadelo começou.

            Alguma coisa havia dado errado, Fabi não parava de sangrar e ficava cada vez mais pálida e fraca. Antes que Cafa pudesse tentar fazer algo para ajudá-la, qualquer coisa, ela simplesmente surgiu ao seu lado. A roupa de hospital que usava encharcada de sangue na parte inferior.

            -- Como? Você está bem?

            -- Eu morri, Cafa. Sabe disso muito bem, você viu.

            -- Não! Você ainda é jovem, é forte, acabou de ter seu bebê...

            -- Sim. Estou triste porque não poderei ver meu filho crescer, mas não há nada que eu possa fazer sobre isso. Além do mais, sei que Caio cuidará bem dele.

            -- Caio? Quem é Caio? Fabi... Desculpe Fabi. – Começou ele, as lágrimas deslizando por seu rosto. – Eu nem pude.... Não tive a chance de...

            -- O quê, Cafa? Você teve sua chance, no passado, mas me desapontou. Não lutou por mim, preferiu sua vida descompromissada à mim, à nós. Você escolheu. Desistiu da nossa relação antes que ela se tornasse algo sério, algo verdadeiro. – disse Fabi, guiando Cafa até uma casa próxima ao hospital. Uma casa fria e impessoal, solitária. – Esse é o nosso futuro, já viu o que vai acontecer comigo, está na hora de ver o que vai acontecer com você.

            Fabi desapareceu, deixando Cafa sozinho num quarto escuro, com sua versão mais velha à sua frente, sentado numa grande cama, lendo algo. De repente, o telefone ao lado da cama tocou, e o Cafa mais velho rapidamente atendeu.

            -- Alô! Mário? O que foi?

            -- É a Fabi, Cafa. Ela entrou em trabalho de parto esta noite.... Você tinha me pedido para avisá-lo...

            -- Estou indo agora mesmo. – disse ele, se levantando abruptamente. – Como ela está? O bebê já nasceu?

            -- Sinto muito, Cafa! Ela faleceu devido às complicações durante o parto, há poucos minutos. Felizmente o bebê está bem... Lamento de verdade.

            Cafa mais velho não foi capaz de continuar ouvindo, deixou o fone cair no chão sem dizer nada. Tudo que Mário ouviu do outro lado da linha foi o grito desesperado de dor de seu amigo, antes de se força a desligar, para dar a Cafa um tempo para lidar com a dor da perda.

            A versão mais velha de Cafa chorava, em desespero, uma dor tão profunda que o Cafa mais novo pôde sentir também, era tão intenso que ele caiu no chão, com uma mão apertando o próprio peito, enquanto aquele vazio em seu coração começava a dominá-lo completamente. ”

            Ele acordou assustado do sonho, ainda podendo ouvir os próprios gritos de desespero e agonia pela morte de Fabi. Se levantou rápido, se arrumou correndo e seguiu para o elevador, mas foi parado por Kira.

            -- Cafa! Tenho que te contara uma coisa... Sobre Fabi.

            -- O quê? Aconteceu alguma coisa?

            -- Eu vi a mãe dela hoje, e ela me contou...

            -- Contou o que Kira? Fala logo!

            -- A Fabi está no hospital, ela descobriu que está com câncer de mama há mais ou menos um mês atrás, pouco depois de vocês terminarem.... Parece que ela está internada durante todo este tempo, recebendo tratamento. – Explicou Kira, abatida. – Eu vou visita-la agora, você quer ir também?

            -- Não pode ser... Por que eu não soube antes...? – Perguntou Cafa, mais para si mesmo. – Eu vou com você, preciso vê-la.

            Kira e Cafa seguiram par ao hospital onde Fabi estava, e encontraram sua mãe esperando em frente a um dos quartos, o quarto de Fabi.

            -- Senhora Célia. Está tudo bem com a Fabi? – perguntou Kira, com Cafa ao seu lado.

            -- Sim. Os médicos só a levaram para mais uma sessão de quimio... E esse é...

            -- Esse é meu irmão, Carlos Rafael, ele também quer ver a Fabi, saber como ela está...

            -- Carlos Rafael... Seria o Cafa? Fabi me falou muito de você antes de... Bem, antes de tudo isso.

            -- Sim. Fabi e eu estávamos saindo juntos, no conhecendo... Ela é muito importante para mim, quero que saiba disso.

            -- Obrigada por virem. Tenho certeza que ela ficará muito feliz em vê-los.

            Logo depois, Fabi apareceu, sendo trazida numa cadeira de rodas por um médico de aparência impecável, muito bonito. No mesmo instante, Cafa o reconheceu. Era o homem em seu sonho, o possível futuro marido de Fabi.

            Ficou claro para Cafa o interesse do tal doutor, estava encantado por ela, e ela parecia estar retribuindo. Cafa sentiu o ciúme lhe consumir, tinha que se controlar para não piorar a situação.

            -- Oi Fabi!

            -- Cafa? Kira? O que estão fazendo aqui?

            -- Viemos te ver, é claro. Por que não nos contou o que estava acontecendo com você? – perguntou Cafa, enquanto o médico a colocava no leito, com cuidado. Ela estava fraca.

            -- Gente, pode nos deixar um pouco sozinhos?

            -- Tudo bem! – disseram todos, antes de saírem do quarto, deixando Fabi e Cafa sozinhos.

            -- Por que está aqui Cafa? Nós terminamos...

            -- E acha que por isso deixarei de me importar com você? Eu precisava vê-la, Fabi, falar com você. Tenho sentido tanto a sua falta... Sei que demorei para aceitar, para notar, mas agora tenho certeza de como me sinto. Eu te amo, Fabi. Demais. Sinto tanto sua falta que dói, você se tornou parte de mim, da minha vida. A melhor parte. Tudo o que eu quero é somente uma chance, mais uma chance para te mostrar que posso mudar, que te amo e posso lhe fazer feliz. Vou compensar tudo...

            -- Não sei se consigo acreditar, Cafa. Era o que eu mais queria... Você me magoou demais.

            -- Eu sinto tanto. Eu a decepcionei antes, mas não vai acontecer de novo. Eu juro, Fabi!

            -- Queria mesmo acreditar nisso, mas não consigo...

            -- Eu vou te provar. Vou fazer você acreditar.

            -- Espero que sim, Cafa. Espero mesmo.

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