sábado, 7 de dezembro de 2013

Personagens Históricos: Imperatriz Myeongseong - Parte IV


·         Vida Pessoal: Primeiros anos
Tanto a Biblioteca da Assembléia Nacional da Coréia e os registros mantidos por Lilias Underwood (1851-1921), uma missionária americana que foi para Coréia em 1888 e foi nomeada médica da rainha (ela possuía total confiança da Imperatriz, sendo uma amiga íntima da mesma), deixaram descrições muito sinceras e vívidas da rainha/ imperatriz. Ambos descreveram o que parecia ser a imperatriz, como sua voz soava, e sua forma pública. Ela dizia que a imperatriz tinha um rosto macio com traços fortes, um clássico bonito, mas longe do gosto sensual que Gojong apreciava. Quando falava, sua voz era macia e quente, mas quando conduzia assuntos de Estado, ela imediatamente fazia valer sua opinião com força. Sua forma pública também era formal e fortemente aderida à etiqueta da corte e das leis tradicionais. Underwood descreveu a imperatriz da seguinte maneira:
“Eu desejo que eu pudesse dar ao público uma imagem verdadeira da rainha enquanto ela aparecia em seu melhor, mas isso seria impossível, mesmo se ela tivesse permitido tirar uma fotografia, pelo seu charmoso jogo de expressões enquanto conversava, o caráter e inteligência que foram então revelados, eram vistos apenas pela metade quando seu rosto estava em repouso. Ela usava o cabelo como todas as senhoras coreanas, partido no meio, bem traçado e muito suavemente agastado do rosto e atado bem abaixo, atrás da cabeça. Um pequeno ornamento... era usado no topo da cabeça preso por uma estreita faixa preta. Sua Majestade parecia se importar pouco com enfeites, e usava muito poucos. Nenhuma mulher coreana usava brincos, e a rainha não era exceção, nunca a vi usar nenhum colar, broche ou uma pulseira. Ela deve ter tido muitos anéis, mas nunca vi ela usar mais de um ou dois de fabricação européia.
Seguindo a tradição coreana, ela carregava uma série de ornamentos de ouro decorados com pendões de seda presos ao seu lado. Tão simples, tão perfeitamente refinado foram os seus gostos para vestidos, que é difícil imaginá-la como pertencente a uma nação considerada meio civilizada... Um pouco pálida e muito magra, com características um pouco acentuadas e olhos brilhantes e penetrantes, ela não me pareceu, à primeira vista, como sendo bonita, mas ninguém podia ajudar a ler o vigor, intelecto e força de caráter naquele rosto.”
Para colocar de maneira simples, Gojong e a jovem rainha consorte não se entendiam no começo. Ambos encontravam-se mutuamente de forma repulsiva, ela preferia ficar em seus aposentos estudando, e ele desfrutava seus dias e noites bebendo e participando de banquetes reais. Os dois, no início, eram incompatíveis. Ela estava realmente preocupada com os assuntos de Estado, se envolvendo dentro da filosofia, história e livros de ciência que normalmente eram reservados para os homens yangban (nobres). Certa vez, ela comentou com um amigo próximo, “Ele me dá nojo”.
Os oficiais da corte comentaram que quando a rainha consorte ascendeu ao trono, ela era extremamente exclusiva na escolha de com quem ela se associava e com quem se confidenciava. Neste comentário, a relação dela com a corte real desde o início lembrava fortemente a de Maria Antonieta com a sua corte. As duas mulheres encontraram uma etiqueta da corte restringida, mas ambas aderiram rigorosamente Às regras tradicionais para impressionar e ganharam respeito na aristocracia. Ambas as mulheres também não consumaram o casamento na noite de núpcias, como a tradição ditava na corte. Adicionando em suas frustrações, ambas encontraram enorme dificuldade em conceber um herdeiro saudável. A primeira tentativa da imperatriz terminou em humilhação e desespero, ela concebeu um herdeiro do sexo masculino, mas ele morreu logo após seu nascimento, devido a problemas de saúde. Sua segunda tentativa teve sucesso, mas Sunjong nunca foi uma criança saudável, muitas vezes pegando doenças e ficando de cama por semanas. Tanto Maria Antonieta quanto a imperatriz também nunca foram capazes de se conectar verdadeiramente com seus maridos, até que seus momentos de dificuldade os reuniu. No final, as duas mulheres foram destinadas a desfechos trágicos; uma sendo guilhotinada por seu povo, incompreendida e com seu nome indevidamente distorcido; a outra brutalmente assassinada pelos japoneses.
·         Vida Pessoal: Últimos Anos
Entre o rei e a rainha consorte começou-se a crescer afetos um pelo outro durante seus últimos anos.  Gojong foi pressionado por seus conselheiros a tomar o controle do governo e administrar a sua nação. No entanto, é preciso lembrar que Gojong não foi escolhido para se tornar rei por possuir talento (o que ele não tinha porque nunca foi formalmente educado) ou por causa de sua linhagem de sangue (que era misturado com de cortesã e com sangue comum),mas porque o clã Pungyang Jo tinha falsamente assumido que eles poderiam controlar o rapaz através de seu pai. Quando era realmente tempo de Gojong assumir suas responsabilidades de Estado, muitas vezes ele precisou do auxílio de sua esposa para conduzir os assuntos internacionais e domésticos. Assim, cresceu em Gojong admiração pela perspicácia de sua esposa, inteligência e habilidade de aprender rapidamente. Como os problemas do reino cresciam mais e mais, e Gojong invocava a ajuda de sua esposa cada vez mais, ela foi se tornando o refúgio dele durante os tempos de frustração.
Durante os anos da modernização de Joseon, é seguro assumir que Gojong finalmente estava apaixonado por sua esposa. Ambos começaram a passar muito tempo um com o outro, privado e oficialmente. Eles compartilhavam os problemas um do outro, e sentiram as dores um do outro. Eles finalmente se tornaram marido e mulher.
A afeição dele por ela era imortal e foi observado que após a morte de sua rainha consorte, Gojong se trancou em seus aposentos durante várias semanas, se recusando a assumir as suas funções. Quando finalmente o fez, ele havia perdido a vontade de sequer tentar e assinava tratado depois de tratado que foi proposto pelos japoneses, dando-lhes imenso poder. Quando seu pai foi capaz de recuperar algum poder político, após a morte da nora, ele apresentou uma proposta com a ajuda de alguns funcionários japoneses para rebaixar o status da nora como rainha consorte para plebéia postumamente. Gojong, um homem que sempre tinha sido usado pelos outros, foi observado pelos eruditos como tendo dito: “Eu preferiria cortar meus pulsos e deixá-los sangrar do que desonrar a mulher que salvou este reino.” Em um ato de desafio, ele se recusou a assinar a proposta de seu pai e dos japoneses, e viro-lhes as costas.
·         O Incidente Eulmi
O incidente eulmi é o termo usado para o assassinato da Imperatriz Myeongseong, que ocorreu na madrugada de 8 de outubro de 1895 em Okho-ru, no Geoncheonggung, que era a parte de trás da residência privativa real dentro do Palácio Gyeongbokgung.
Na madrugada de 8 de outubro de 1895, agentes japoneses sob comando de Miura Goro executaram o assassinato. Miura havia orquestrado o ataque junto com Okamoto Ryunosuke, Sugimura Fukashi, Kunimoto Shigeaki, Sase Kumadestu, Nakamura Tateo, Hirayama Iwahiko, e mais outros 50 japoneses. Eles disseram que também haviam colaborado o General U Beom-Seon, que era pró-japoneses, e Yi Du-Hwang.
Na frente do Gwanghwamun, os assassinos lutaram contra a Guarda Real Coreana, liderada por Hong Gye-Hun e An Gyeong-Su. Hong Gye-Hun e o ministro Yi Gyeong-Jik foram posteriormente mortos em batalha e os assassinos procederam para Okho-ru e mataram a Imperatriz Myeongseong. O cadáver da imperatriz foi, em seguida, queimado.

Pavilhão Okho-ru, onde a Imperatriz foi assassinada

·         Relato das Testemunhas Oculares
Sunjong, o primeiro filho de Gojong e da imperatriz, relatou que viu soldados coreanos e o General Woo Beom-Seon (pai de Woo Jang-Choon, um cientista agrícola) no local do assassinato, e acusou o general Woo como o “inimigo da mãe”. Além da acusação, Sunjong mandou dói homens coreanos matarem o general Woo, um esforço que teve sucesso em Hiroshima, no Japão, em 1903.
Em 2005, o professor Kim Rekho, da Academia Russa de Ciências, se deparou com um relato escrito sobre o incidente por um russo civil chamado Aleksey Seredin-Sabatin, no Arquivo de Política Externa do Império Russo. Seredin-Sabatin estava a serviço do governo coreano, trabalhando para o General americano William McEntyre Dye, que também estava sob contrato com o governo coreano. Em abril, Kim fez um pedido à Biblioteca da Universidade Myongji para tornar público o documento. Em 11 de maio de 2005, o documento foi tornado público.
Anos antes do lançamento do documento na Coréia do Sul, uma cópia traduzida já estava em circulação nos EUA, tendo sido divulgado pelo Centro Coreano de Pesquisa da Universidade de Columbia, em 6 de outubro de 1995, para comemorar o 100º aniversário do Incidente Eulmi.
No relato, Seredin-Sabatin recordou:
“O pátio onde a ala da rainha (consorte) estava localizado estava cheio com japoneses, talvez até 20 ou 25 homens. Eles estavam vestidos com roupas peculiares e armados com sabres, alguns dos quais abertamente visíveis... Enquanto alguns soldados japoneses estavam remexendo em todos os cantos do palácio e nos diversos anexos, outros invadiram a ala da rainha e atiraram-se sobre as mulheres que encontraram lá... Eu... continuei a observar os japoneses revirarem a ala da rainha. Dois japoneses agarraram uma das damas da corte, puxaram-na para fora da casa, e desceram as escadas arrastando-a por trás deles... Além disso, um deles repetidamente me perguntava em inglês, ‘Onde está a rainha? Aponte a rainha para nós!’... Ao passar pela Sala Principal do Trono, eu notei que ele estava cercado ombro a ombro por uma parede de soldados e oficiais japoneses, mandarins e coreanos, mas o que estava acontecendo ali era desconhecido para mim.”
·         Partes Envolvidas
No Japão, 56 homens foram acusados, mas todos foram absolvidos pelo Tribunal de Hiroshima, devido à falta de provas.
Eles incluíram os homens abaixo:
Visconde Miura Goro, ministro da legação japonesa;
Okamoto Ryunosuke, um funcionário da embaixada e ex-oficial do exército japonês;
Hozumi Torakuro, Shotaro Kokubun, Hagiwara Shujiro, funcionários da legação japonesa;
Sugimura Fukashi, um segundo-secretário da legação japonesa;
Kenzo Adachi, editor do jornal japonês na Coréia, Kanjo Shimpo (também chamado Hanseong Shinbo em coreano);
Kusunose Yukihito, um general do Exército Imperial japonês;
Kunitomo Shigeaki, um dos membros originais do Seikyosha (Sociedade para a Educação Política);
Shiba Shiro, secretário particular do ministro da agricultura e Comércio do Japão, e um escritor que estudou economia política em Wharton School e na Universidade de Harvard;
Sase Kumadestu, um médico;
Terasaki Taikichi;
Nakamura Tateo;
Horiguchi Kumaichi;
Ieiri kakitsu;
Kikuchi Kenjo;
Hirayama Iwahiko;
Ogihara Hidejiro;
Kobayakawa Hideo, editor-chefe do kanjo shimpo;
Masayuki Sasaki e outros.
Na Coréia, Gojong declarou que os seguintes eram os traidores no incidente Eulmi, em 11 de fevereiro de 1896:
Hui Jo-Yeon;
Yoo Joon-Gil;
Kim Hong-Jip;
Byeong Ha-Jeong;
E outros.
Os possíveis assassinos da Imperatriz posando na frente do
prédio do Hanseong Sinbo, em Seoul, Coréia do Sul

·        
Consequências
A reforma de Gabo e o assassinato da Imperatriz Myeongseong geraram um sentimento anti-japonês na Coréia, que fez também com que alguns eruditos do confucionismo, bem como os agricultores formassem sucessivos exércitos apenas para lutar pela liberdade na península coreana por mais de 60 anos.
Após o assassinato da Imperatriz Myeongseong, Gojong e o Príncipe Herdeiro (mais tarde, Imperador Sunjong) se refugiaram na legação russa em 11 de fevereiro de 1896. Além disso, Gojong declarou os quatro traidores do Incidente Eulmi. No entanto, em 1897, Gojong, cedendo à pressão tanto pelo aumento de estrangeiros quanto pelas exigências do parecer da Associação de Independência, liderada pelo público, voltou a Gyeongungung (Deoksugung, nos dias atuais). Lá, ele proclamou a fundação do Império Coreano. Entretanto, depois das vitórias do Japão na guerra Sino-Japonesa e Russo-Japonesa, a Coréia sucumbiu ao julgo colonial japonês, entre 1910 e 1945.
Em maio de 2005, com 84 anos, Tatsumi Kawano, neto de Kunitomo Shigeaki, pagou seus respeitos à Imperatriz Myeongseong em seu túmulo em Namyangju, Gyeonggi, Coréia do Sul. Ele pediu desculpas à Imperatriz Myeongseong, em nome de seu avô.



·     Cortejo Fúnebre e Tumba da Imperatriz Myeongseong
Em 1897, o Rei Gojong, com o apoio russo, recuperou seu trono e gastou “uma fortuna” para ter os restos mortais de sua amada Rainha Min (imperatriz Myeongseong) propriamente honrado e sepultado. Seu cortejo fúnebre incluiu 5.000 soldados, 650 policiais, 4.000 lanternas, centenas de arabescos honrando ela, e cavalos de madeira gigantes destinados ao uso dela na vida após a morte. As honras que o rei Gojong deu à Rainha Min, para o seu funeral foi concebida como uma declaração dos esforços diplomáticos e heróicos dela pela Coréia – contra a invasão japonesa, bem como, uma declaração de seu próprio amor imortal por ela. Os restos mortais recuperados da Rainha Min estão em seu túmulo, localizado em Namyangju, Gyeonggi, Coréia do Sul.


·         2009 à 2010
De 2009 a 2010, organizações coreanas estão tentando julgar o governo japonês por sua documentada cumplicidade no assassinato da Imperatriz. Do KoreanLegal.org – “O Japão não tinha feito um pedido oficial de desculpas ou arrependimento 100 anos depois de oprimir o povo coreano por 35 anos, através do Tratado de Anexação da Coréia-Japão em 1910”, disse o comunicado. O processo será arquivado se o governo japonês não aceitar suas exigências para que seja feito uma declaração especial, oferecendo as desculpas do Imperador japonês e libere os documentos relativos ao caso do assassinato.
·         Títulos desde o nascimento até a morte
1.       19 de outubro de 1851 – 20 de março de 1866: Min-ssi (Senhorita Min)/ Min Chi-Rok-ui-ddal (a filha de Min Chi-Rok)
2.       20 de março de 1866 – 01 de novembro de 1873: Sua Alteza Real, a Rainha Consorte de Joseon
3.       01 de novembro de 1873 – 01 de julho de 1894: Sua Alteza Real, a Rainha Regente de Joseon
4.       01 de julho de 1894 – 06 de julho de 1895: Sua Alteza Real, a Rainha Consorte de Joseon
5.       06 de julho de 1895 – 08 de outubro de 1895: Sua Alteza Real, a Rainha Regente de Joseon.
(Para os quatro títulos acima: Wangbi Jeonha; Jungjeon mama; Junggungjeon mama; também eram estilos aplicáveis)
·         Título Póstumo
Curto: Imperatriz Myeongseong da Coréia
Completo: A Filial e Benevolente, a Origem da Santidade, a Apropriada em Mudanças, a Unificadora do Céu, a Imensamente Louvável e a Sinceramente Virtuosa Grande Imperatriz Consorte Myeongseong.


Fontes:

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