sábado, 28 de setembro de 2013

Personagens Históricos: Imperatriz Myeongseong da Coréia - Parte I

Personagens como Elizabeth I, Ana Bolena e Maria Antonieta nós conhecemos razoavelmente bem. Em geral, a maioria dos personagens históricos que conhecemos, além dos nacionais (obviamente) que estudamos nos colégio, ou são europeus ou são americanos. Como, por exemplo, George Washington e JFK, além dos que já citei acima. Porém, há personagens impressionantes, seja por suas histórias, seus feitos ou o modo como pereceram, em países que conhecemos pouco, ou apenas superficialmente, como a China, o Japão e a Coréia, por exemplo.
Então, para começar, vou escrever sobre uma das personagens que, por diversas razões, eu mais admiro e cuja vida se assemelha bastante a de Maria Antonieta, apesar de suas personalidades serem bem diferentes... Imperatriz Myeongseong da Coréia.
Antes de começar, preciso explicar algumas coisas:
  1. Assim como os monarcas chineses, os monarcas coreanos e suas consortes recebiam nomes póstumos, pelos quais são mais conhecidos (por exemplo: Yi San -> Rei Jeongjo). No caso das consortes, é um pouco diferente de seus maridos. Enquanto reinavam eram referidas apenas pelo título e o nome do clã (por exemplo: Rainha Min), e quando morriam recebiam um nome póstumo (exemplo: Rainha Inhyun). Por causa disso, não se sabe o nome pessoal delas, ou seja, aquele dado pelos pais, já que esses nomes nunca eram registrados e elas, como consortes, nunca eram chamadas por eles.
  2. Após a unificação da península coreana, com o fim do período dos 3 reinos (não confundir com o período chinês de mesmo nome) de Shilla, Goguryeo e Baekje, houve ainda mais quatro períodos diferentes: Shilla Unificada, Goryeo, Joseon e Império Coreano. Este último durou pouquíssimo tempo, sendo seguido pelo período de Dominação Japonesa, Governo Provisório e Divisão em Norte e Sul. A imperatriz Myeongseong viveu nos últimos anos da Dinastia Joseon, sendo que recebeu seu nome póstumo de acordo com o Império Coreano, fundado pelo seu marido, Gojong.
Imperatriz Myeongseong da Coréia


Nascimento: 19 de Outubro de 1851 no Condado Yeoju, Província Gyeonggi, Joseon
Morte: 8 de Outubro de 1895 (aos 43 anos) no Pavilhão Okhoru, Geoncheonggung, Palácio Gyeongbok, Seoul, Joseon.
Pai: Min Chi-rok
Mãe: Senhora Hanchang do clã Yi
Marido: Rei Gojong de Joseon
Filhos: um filho, uma filha, Imperador Sunjong do Império Coreano, um filho, um filho.
Nome Póstumo: Hyoja Wonseong Jeonghwa Hapcheon Honggong Seongdeok Myeongseong Taehwanghu (A Filial e Benevolente, A Origem da Santidade, A Apropriada em Mudanças, A Unificadora dos Céus, A Imensamente Louvável e A Sinceramente Virtuosa Grande Imperatriz Consorte Myeongseong - 효자원성정화합천홍공성덕명성태황후)
Reinado: 1º de Novembro de 1873 – 1 de Julho de 1894 (20 anos e 242 dias);
6 de Julho de 1895 – 10 de Outubro de 1895 (96 dias)


·         Fim de uma Era:
No outono de 1864, Yi Myeong-Bok, com 12 anos na época, foi coroado o novo rei do reino de Joseon, com seu pai intitulado Heungseon Daewongun (Grande Príncipe Interno) atuando como regente em seu nome.
O fortemente confucionista Heungseon Daewongun provou ser um líder sábio e calculista nos primeiros anos do reinado do filho. Dentro de poucos anos ele foi capaz de assegurar o controle total da corte e eventualmente recebeu a submissão do clã Pungyang Jo, um dos mais poderosos da época, enquanto eliminou com sucesso os últimos do clã Andong Kim, cuja corrupção, ele acreditava, era responsável por arruinar o país.
·         Uma nova rainha:
A futura imperatriz nasceu na aristocrática família Min do ramo Yeoheung em 19 de outubro de 1851, no Condado de Yeoju, na Província de Gyeonggi (de onde se originou o clã).
O Yeoheung Min era um clã nobre, vangloriando-se de muitos burocratas altamente posicionados em seu ilustre passado, tendo até mesmo 2 rainhas consortes: Rainha Wongyeong (esposa do Rei Taejong e mãe de Sejong) e Rainha Inhyun (esposa do Rei Sukjong e uma das mais retratadas em dramas da Coréia do Sul).
Filha de Min Chi-Rok é como a imperatriz era conhecida antes do casamento. Alguns relatos ficcionais a nomeiam Min Já-Yeong, mas isso não foi confirmado por fontes históricas. Aos 8 anos, seus pais morreram. Pouco se sabe sobre sua mãe, sua infância, ou as causas das mortes prematuras de seus pais.
Quando Gojong atingiu os 15 anos de idade, seu pai decidiu que era hora dele se casar. Ele foi diligente em encontrar uma rainha sem parentes próximos, que se nutririam de ambições políticas e ainda tivesse uma linhagem nobre, a fim de justificar sua escolha para a corte e as pessoas. As candidatas foram rejeitadas, uma a uma, até que a esposa de Daewongun (Yeoheung Budaebuin: Princesa Consorte do Príncipe da Grande Corte) e sua mãe propuseram uma noiva de seu próprio clã (Yeoheung Min). As descrições, por sua esposa e sua mãe, da menina foram bastante persuasivas: órfã, bonita, corpo saudável, nível habitual de ensino (não menor do que o mais nobre do país).
A noiva já tinha sido submetida a um rigoroso processo de seleção, culminando no encontro com Daewongun em 6 de março, e em 20 de março de 1866, a menina, com quase 16 anos, se casou com o rei menino e foi investida em uma cerimônia (chaekbi) como rainha consorte de Joseon. Dois lugares registraram reclamações no casamento e ascenção:
  1. Salão Injeong no Palácio Changdeok
  2. Salão Norak no Palácio Unhyeon
Sabe-se que a peruca, que normalmente era usada pelas noivas reais nos casamentos, era tão pesada que uma senhora alta da corte foi especialmente designada para apoiá-la pelas costas da nova rainha. A cerimônia de casamento mal acabou, quando outra cerimônia de três dias para reverenciar os ancestrais foi iniciada.
Os funcionários mais antigos logo perceberam que a nova rainha consorte era uma jovem firme e ambiciosa, ao contrário das outras rainhas que vieram antes dela. Ela não participava de festas luxuosas, raramente encomendava modelos extravagantes dos ateliês reais, e quase nunca realizava festas de chá da tarde com as senhoras poderosas da aristocracia e as princesas de diferentes famílias reais, a menos que a política requeresse à ela. Como rainha consorte, era esperado que ela atuasse como um ícone para a alta sociedade de Joseon, mas ela rejeitou esta crença. Ela, pelo contrário, lia livros reservados para homens e aprendeu sozinha filosofia, história, ciência, política e religião.
·         Dominação da Corte:
Mesmo sem os pais, a rainha consorte (como era conhecida) foi capaz de formar secretamente uma poderosa facção contra seu sogro, Daewongun, logo que chegou a idade adulta. Aos 20 anos, ela começou a andar fora de seu aposento no palácio Changgyeong e desempenhar um papel ativo na política. Ao mesmo tempo, ela defendeu seu ponto de vista contra os altos funcionários que viam-na como alguém se tornando demasiado intrometida. Daewongun também estava incomodado com a agressividade da rainha consorte.
A luta política entre a rainha consorte e Daewongun tornou-se pública quando o filho que ela deu a luz, em 1871, morreu prematuramente. Daewongun declarou publicamente que a rainha consorte foi incapaz de carregar uma criança saudável do sexo masculino, enquanto que ela o culpou por ter levado muito ginseng para ela. Ele recomendou a Gojong ter relações com uma concubina real, Lee Kwi-in de Yeongbo. Em 16 de abril de 1868, a concubina deu À luz um menino saudável, Príncipe Wanghwa, a quem Daewongun intitulou como príncipe herdeiro.
A rainha consorte respondeu com uma poderosa facção de altos funcionários, acadêmicos e membros de seu clã para derrubar Daewongun do poder. Min Seung-Ho, um dos parentes da rainha, com o estudioso da corte Choe Ik-Hyeon, escreveram uma impugnação formal de Daewongun para ser apresentado ao Conselho Real de Administração, argumentando que Gojong, então com 22 anos, devia governar em seu próprio nome. Com a aprovação de Gojong e do Conselho Real, Daewongun foi obrigado a abandonar a sua propriedade em Yangju em 1872 (Hah, ela acabou com ele). Ela, então, baniu a concubina real e seu filho para uma aldeia nos arredores da capital, despojados de seus títulos reais. A criança morreu logo depois, em 1880, e alguns tinham acusado a rainha de envolvimento.
Com a retirada de Daewongun e a expulsão da concubina e seu filho, a rainha consorte ganhou o controle completo de sua corte, colocando sua família em cargos superiores na corte. Esta ação mostrou que ela era uma rainha consorte que governava com o marido, mas era nitidamente mais ativa politicamente de que seu marido era.
·         O ‘Reino Eremita’ emerge:
Após a recusa de Joseon para receber os enviados japoneses anunciando a Restauração Meiji (ou seja, a derrubada do xogunato e restauração do poder imperial), alguns aristocratas japoneses favoreceram uma invasão imediata de Joseon, mas a idéia foi logo descartada depois do retorno da missão Iwakura, alegando que o novo governo japonês não era nem politicamente nem fiscalmente estável o suficiente para iniciar uma guerra. Quando Daewongun foi afastado da política, o Japão renovou os esforços para estabelecer laços com Joseon, mas o enviado imperial que chegou a Dongnae em 1873, foi rejeitado novamente.
O governo japonês, que procurou imitar a tradição dos impérios europeus de fazer cumprir os chamados Tratados Desiguais, respondeu enviando o encouraçado japonês Unyo para Busan e outro encouraçado para a baía de Yeongheung sob o pretexto de inspecionar as rotas marítimas, pressionando Joseon a abrir suas portas. O Unyo se aventurou em águas restritas da Ilha Ganghwa, provocando um ataque da costa coreana. O Unyo fugiu, mas os japonese usaram o incidente como pretexto para forçar um tratado com o governo coreano. Em  1876, seis navios de guerra e um enviado imperial japonês foram para a ilha Ganghwa para executar esse comando.
A maioria da corte real favoreceu o isolamento absoluto, mas o Japão tinha demonstrado a sua vontade de usar a força. Após inúmeras reuniões, os funcionários da corte foram enviados para assinar o tratado de ganghwa, um tratado que tinha sido modelado de acordo com os tratados de impostos sobre o Japão pelos EUA. O tratado foi assinado em 1876, abrindo assim Joseon para o Japão. Várias portas foram forçadas a se abrir para o comércio japonês, que naquele momento tinham direito de comprar terras em áreas designadas. O tratado também possibilitou a abertura de Incheon e Wonsan aos comerciantes japoneses. Pelos primeiros anos, o Japão possuiu um monopólio quase total do comércio, enquanto os comerciantes de Joseon sofreram sérias perdas.

Lado de fora do museu na cidade natal da imperatriz Myeongseong
Continua na Parte II...

Fontes:

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